Falta de Leitura: De quem é a culpa? – Por Professor Nazareno*
Sábado , 20 de Março de 2010 - 9:56
Há alguns anos, um servente de pedreiro passou no Vestibular de Direito numa faculdade do Rio de Janeiro. Até aí tudo bem não fosse o incrível detalhe de que o indivíduo era analfabeto. O Ministro da Educação de então, professor Paulo Renato, ficou escandalizado com o fato. A comunidade acadêmica ficou em polvorosa. Foi um escândalo. Notícias foram publicadas a respeito, promoveram-se vários debates sobre o assunto. O MEC a partir de então, instituiu a obrigatoriedade de uma prova de Redação para todos os concursos vestibulares (tanto das universidades públicas quanto das particulares), pois acreditavam os sábios do Ministério estar criando assim uma barreira de competência quase intransponível para quem quisesse fazer um curso superior. Ops! Vestibular em faculdade particular?
Os alunos do Ensino Médio do país inteiro, salvo raríssimas exceções, produzem hoje um texto tão bom quanto o que produziria o nosso servente acima citado. Pouco ou nada foi feito para se equipar as nossas escolas de condições para ensinar como se produzir um bom texto. O mercado não tem bons profissionais na área. Muitos professores de Português e até mesmo de Redação não conseguem produzir uma simples lauda com coerência e clareza. A maioria das nossas escolas não tem sequer a disciplina Redação no Ensino Médio. Os mestres não lêem quase nada, pois livros custam caro. O povo não lê. A imprensa escrita, de um modo geral, apenas informa em vez de ajudar a formar. Livros são gêneros tão supérfluos e raros no Brasil quanto caviar de esturjão do mar Negro.
E não adianta muito criar clubes de leitura ou coisas do gênero. Colocar livros como componentes da cesta básica como até já sugeriu um Ministro da Educação é tão ridículo que beira a insensatez. Num país de gente famélica como o nosso, a atividade de ler e produzir um texto passou a ser talvez a mais descartável das ações humanas. Brasileiro não lê, reclamamos. Mas brasileiro come? É preciso reformular tudo, mudar tudo. Fazer uma revolução. A atividade de ler deve sim, começar desde cedo, em casa e incentivada pelos pais. “Um país se faz com homens e livros” (que sejam lidos, é claro). As escolas deveriam cobrar diariamente dos seus alunos a produção de um texto escrito como se fosse uma espécie de ordem do dia.
Além disso, a mídia deveria contribuir com programas de incentivo à leitura e não com essa programação imoral, alienante e sem sentido. Big Brother, Faustão, Xuxa, a Fazenda, Gugu, os programas policias e outras porcarias do gênero deveriam ser extintos da grade de programação, pois nada ensinam e só deturpam e entorpecem a já deficiente e confusa mentalidade do brasileiro. Que contribuição um programa policial dá à cultura e ao país em termos de conhecimento? Geralmente apresentados por psicopatas ou alienados, esses programas são verdadeiros shows de desrespeito aos direitos humanos, de incentivo à cultura da “justiça com as próprias mãos”, além de propagar a desigualdade social entrevistando só os bandidos pequenos, aqueles “que só falam em juízo”.
Infelizmente não será essa greve de professores ou outra qualquer que vai resolver este delicado problema. Nem aqui nem em qualquer outro lugar do país. As eleições já se aproximam e de novo nenhum alento no horizonte. Vamos reconduzir aos cargos para nos governar os velhos de sempre: mensaleiros, sanguessugas, corruptos, mentirosos, ladrões, compradores de votos, estelionatários, bandidos e enganadores de fé alheia. Os raríssimos eleitos que têm compromissos com a educação, com a cultura do povo, se perderão no “oceano de mediocridade” em que se transformou a política nesta nação de semi-analfabetos. O Brasil só vai mudar quando a maioria do “e-leitor” se conscientizar da importância do ato de ler para promover as transformações sociais de que tanto necessitamos para o nosso progresso. Só que estamos a “anos-luz” desta realidade, desta utopia. Uma pena.
*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento em Porto Velho.
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